quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Tradução de "Bravado", do Rush




Se nós queimarmos nossas asas

Voando muito perto do sol

Se o momento de glória

Está acabado antes de ter começado

Se o sonho é vencido -

E apesar de tudo estar perdido

Nós pagaremos o preço,

Mas não contaremos o custo


Quando a poeira baixou

E a vitória foi negada

Uma subida muito íngreme

Um rio um pouco vasto demais

Se nós mantivermos o nosso orgulho -

E embora o paraíso esteja perdido

Nós pagaremos o preço

Mas não contaremos o custo


E se a música parar

Só restará o som da chuva

Toda a esperança e glória

Todo o sacrifício em vão

E se o amor remanescer

Mesmo tudo estando perdido

Nós pagaremos o preço

Mas não contaremos o custo



sábado, 10 de fevereiro de 2007

Sombra.




Tudo escuro.
Se há alguém ao meu lado,
Que grite agora,
Por favor!

Vejo apenas a dança
de casais cegos e surdos.
Carrossel de luzes
que apenas vejo de longe.

Tento achar um par...
A sombra é mais forte.

Dançam no silêncio.
A luz não deixa que eles me vejam.

Melhor assim.

Melhor seria que eu não os vissem também...

Havia algumas que me viam
solitário.

Pensei que chegariam perto.

Mas sempre arranjam um outro par.

A luz não chega até aqui.

A sombra não deixa que eu saia daqui.
Não quero continuar assim.

A sombra não me deixa enxergar
quem está perto.

Se há alguém ao meu lado.
Que grite agora,
Por favor!

Por favor...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Fim do Dia


Saí às 17:30 do trabalho e fui, indicado por Barriga, meu funcionário, numa oficina pra dar uma olhada num barulho insuportável em meu carro. Uma rua quase vazia. 2 mendigos, um vendedor de balas que acabou de descer do ônibus no fim de linha, dois cachorros, prédios e casas velhas. Lugar estranho esse, mas era melhor do que pagar três vezes mais numa dessas oficinas com cafezinho, biscoitos e sala de espera. Qualquer barzinho é melhor que isso. E, além disso, Barriga me garantiu que o mecânico era bom e que ia fazer um preço camarada. Mas só via prédios e casas. Nada mais. Desliguei o carro e saí pra pedir informação à alguém. Agora é achar esse alguém.

Tinha um garoto chutando bola num gol pintado numa parede. Chamei-o. Ele olhou meio desconfiado, porque ele tá me chamando? Com uma cara de dúvida, ele veio falar comigo.
- Boa tarde, garoto! Você sabe se tem alguma oficina aqui por perto?
- Senhor, a oficina é na rua anterior. Mas o senhor vai consertar esse carrão lá?!
- (rindo) Na verdade eu vim aqui porque um funcionário meu me indicou.
- Ah! O Seu Farias é bom mesmo! Meu pai vive falando dele.
O garoto falou sobre seu pai, e acabei notando uma coisa: olhando pra ele, ele me lembra alguém. Neguinho, baixinho voz anasalada e fala corrida. Lembrava muito o... Barriga! É! Pode ser mesmo filho dele. Só falta ser apressado que nem o pai.
-Por acaso seu pai se chama Pereira?
-Sim! Mas ninguém chama ele assim. Só chamam ele de Barriga.
-Hmmm... E você, garoto? Estuda?
- Sim! Estudo bastante porque um dia eu quero ser médico!
O Barriga já tinha comentado desse sonho do filho dele. Barriga era o pai mais orgulhoso de toda minha empresa! Via o brilho nos olhos de Barriga, quando ele falava como seu filho era bom na escola e atencioso com as pessoas. Agora vejo esse brilho nos olhos do garoto, dizendo que um dia quer ser médico.
-Que legal! Mas porque você quer ser médico?
-Ah... (olhou pro mendigo que agora procurava comida num lixo num beco). Queria ajudar o pessoal aqui. Médico só aparece aqui terça e quinta feira.
-Mas você não quer sair daqui não?
-Não sei (olhando pro meu carro e de novo pro mendigo). Se eu sair daqui não vou poder ajudar ninguém aqui. Só se eu levar todo mundo pra minha casa. Aí seria bem legal!
Conversei mais um tempinho com o garoto e lembrei que nem tinha passado no mecânico ainda! Teria que continuar a conversa com o Barriguinha depois. Vixi! Esqueci de perguntar o nome dele!
-Ô garoto, qual é o seu nome?
-Meu nome é Jesus, senhor.
-Hmmm... Nome bonito! Tem como você chamar o mecânico pra mim, Jesus?
-Sim! Sim! Peraê!
Na hora que ele acabou de falar eu peguei minha carteira pra dar uns trocados a ele, mas ele saiu correndo. Seria melhor dar logo o dinheiro pra ele não precisar voltar aqui.
- Ei! Garoto! Volte aqui!
Ele não ouviu, mas dois policiais que tinham acabado de descer de um ônibus ouviram meu grito, e mandaram o garoto parar. Ele não ouviu de novo. Jesus entrou no mesmo beco que vira o mendigo e tentou pular o muro, pra cortar caminho. Um dos policiais atirou nas costas de Jesus. Gritei! Porque atiraram nele?! Simplesmente disseram: Ele te assaltou. Antes de pensar em qualquer coisa, peguei o garoto e, tentando tapar a feria pra diminuir o sangramento com minha camisa, fui pra meu carro, perguntando ao policial onde ficava o posto; perto da oficina, do outro lado da rua, disse o guarda. Manobrei o carro e, com a voz tremida, o garoto perguntou:
- Senhor... Você é... Médico?
- Não! Não sou, mas vou te levar para o posto! Agüente firme!
- Não precisa... Hoje é quarta-feira... Só tem os seguranças... Lá...
E, com a voz cada vez mais fraca, Jesus disse:
-O senhor é... gente boa... vou levar pra... morar... Comigo...
Depois disso, Jesus fechou os olhos. Sua respiração parou. Realmente, no posto só havia seguranças...