quinta-feira, 21 de abril de 2011

O chão da alma



De súbito, a amplidão acenou em mim a esperança,

inundando o clarão a fraturar as sombras de meus olhos gastos
de se fechar, que, por pouco, perdiam-se no estagnado.

Ignorada é a dor que antes trilhava desfiladeiros na turva jornada:
a Morte, na velha carroça que em minhas mãos insistia,
era a guia dessa densa noite de desterros.

Porém, interminável na vista, o planalto
marca nos meus pés a indomável rota, resoluta e mística.

Eu, cego de luzes, sou envolvido pelo Tudo a firmar meus passos,
sujos da grande terra fértil, tingida pelo vermelho do intenso sol.

Agora céu e chão – unidos no voo incerto e vivo – levam
as areias do tempo (o mais esquecido longe),
e eu, nos ventos da Iluminação, sigo para o mais inóspito solo –
que de verdes arboresce e de auroras avermelha-se:

a terra assentada em minha alma, desabitada no silêncio do [desvisto
e que, na sede de êxtases, abre-se, num claro peito, que em [venturas
planta-me num outro nascer, alado, incontido. O Infinito.



domingo, 17 de abril de 2011

A ilha



Aquela ilha, longe, desvista na imensidão,

acena raros coqueiros secos, sombreando
a areia antiga e gasta de tempos.

Havia passos marcados, esquecidos de caminho,
_____a estranha inércia a vencer maremotos,
_____o vento movendo as folhas ressequidas.

O sol reverbera no céu o azul movente do mar,
impondo a vida nas ondas a brilhar:
peixes dançam cardumes e corais desenham jardins
por todo o oceano.

Estática, a ilha esquecida, ignorada.
iluminada pela mesma luz, fértil nas águas.
Porém a desabitada areia, amarela de passados,

afunda nas profundezas uma grande terra,
outrora carregada de todo verde e toda alma.

E que agora é apenas rastros do que marcado está;
é apenas a ilha, presente, vazia, a imóvel manter-se,
____________________________a, ignota, perder-se.



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sísifo aniquilado



O insustentável claustro da dor cresce,

enrijecendo ombros caídos de penar
a própria andança em mundo vasto
de montes feridos de largas distâncias.

Um espelho desenha-se na grande rocha,
riscando a face cinza. Eram os olhos do perder
e a vida vencida que subia, subia. Vencida.
E as mãos, duras, apenas a rocha empurravam.

Havia o topo, do maior sol, iluminando o “se”.
Porém, curvado, o crânio suado vertia-se
na ínfima força, em torturante penumbra.
E as lágrimas escureciam-se na terra sem luz.

Os braços, gastos de ordem, tremiam o vazio
a contrair músculos, ossos – e o peito.
E a pedra era maior que o monte, que o sol –
que o sangue que desesperadamente escorria.

O ar faltava, tanto quanto o topo não visto.
Os olhos, embaçados, focavam, perdidos,
o desfigurado reflexo. E Parada. A pedra.
Congelado. Sísifo. No martírio ofício.

Viu-se nos dedos desanimados, na boca
aberta e muda, nos ouvidos órfãos de pássaros.
E, nos rios vermelhos que cortavam sua face,
viu a vida descer, feroz, sobre sua rasa alma.