terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A terceira cor



Olho, calçando a luz de um sol em despedida,
voltas turvas e várias de um vermelho borrado.

O pincel que a criança deixou cair
escondeu-se numa velha alma
que rascunha com gastas vistas,
com cinzas e duras tintas.

A paleta secava o tempo
com o pó das tintas mortas:

poeira que maquiava o silêncio
na face branca, vazia.

E uma pedra de carvão
arrasta-se na tela poente,
no difícil risco
de um querer gasto.

Em vermelhos e pretos,
escorre toda a matéria,
espalhada por um sopro.

Você, imagem disforme,
desfaz-se, num amar-além,
ar que o futuro sussurra,

que apenas restos leva –
vontade que rabiscou o nada.



sábado, 18 de janeiro de 2014

Mergulho do ilhado III



Um rio limpa a terra encarnada nos pés gastos,
mas não desfaz suas rachaduras.
As fraturas engrossam a pele, mesmo limpa.

Não há foz para decantar a dor levada,
ainda alcançada pelos meus olhos.

E um mar de barro se veste
com o pôr-do-sol,
inundando todo meu corpo.

Deles surgem fissuras esquecidas;
formando rochedos,
falésias de memórias
intermináveis -
incompletas.

E o vermelho da criação,
Gênesis de lama e sangue,
tornam a carne dura pedra,

de silêncio e naufrágio.