segunda-feira, 14 de março de 2011

Inocente

“Acordar é um pouco de morrer.”


Sonhando a deixar o doce colorir os passos,

levava em si o berço de sua pequena aurora,
pendurada em sóis plásticos de um brinquedo
que no alto desenhava a cantiga a leve soar.

Eram os olhos fechados a ver o arco-íris, a dar
à língua o gosto de viver, lambuzando dentes
em sorrisos brancos de nuvens. E o sol, acima,
girando, girando, na brisa do entardecer.

E fechados ficavam, sem saber do falso do sol,
que sorria o opaco desenho de sua cor, frágil
adorno a ninar um sono. Pequeno, ínfimo –
e profundo, pois não via o branco vácuo do acordar.



terça-feira, 1 de março de 2011

Quando os astros disserem Gêneses



Trágicos tentamos, na longa sorte do querer,

fazer do abraço o sempre da esperança.
Pois éramos esquecidos do Instante.

Fizemos da antiga mácula o deposto sentir
do que havia sido outrora memória frágil
de estilhaços de perdas vagas e fundas.

Sentimos, juntos, o que inexistente insiste
no vácuo do Agora, o que infringe a lei maior
do Universo, presente de completo infinito.

Destinos, cada um, perdidos no Espaço
errante entre mãos silentes de afetos
e de tatos gastos do frio vazio de nula órbita.

Mas quando, resolutos, meteoros cortarem o céu,
quando os astros disserem flores no campo azul
de trilhas abertas da gritante e viva aurora,

e regarem o Vazio com o fogo da gravidade,
e a última queda for o calar do Tempo, seremos,
novamente, o Nada, Um – desconhecidos

da Distância, ignorados do Zero Absoluto.
Seremos nós, unidos na matéria presente
no fogo: a Gênese infinda do mais puro Eterno.