domingo, 4 de julho de 2010

Inundado



As gotas a infiltrar o concreto fazem poças na casa recém aberta. A preocupação com a chuva, antes de sair, ficou apenas nas janelas fechadas: esquecidos os baldes na dispensa, poças refletem a luz da sala que acabo de acender. Olho rastros de água desenhados na parede, que, insistentes, ignoram a parada da chuva.


Os baldes, agora espalhados pela casa, enchem-se de pingos perdidos. Estava só. Mas um corpo ausente fazia eco no vazio da casa e de baldes que demorariam horas para serem enchidos. Seu aroma simples, exalando, no lugar do perfume, o doce existir, se prolonga na saudade muda, afinada com a sinfonia da água.

Sim, os baldes demorariam até silenciarem todas as goteiras da casa. Mas esta se enchia de outras gotas, caladas, desenhando um sabor que eu nunca pudera sentir. E era esse gosto o interminado cheiro. Um intocável seio a inundar um incurável veio que escorre de um concreto corpo, cunhado a sangue e cinza.



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