quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando despe o segredo a carne

"De tão sentir o amor não sei dizer-to,
Antes, se falo, só dos prados falo
E em dueto comigo
Discurso o amor."
Ricardo Reis


O incauto peito, outrora escondido em azuis venturas,

agora tem despido o segredo, e inversos
de um estranho receio envolvem a inevitável nudez.

O despudor desfila clareiras em um corpo
que, no labirinto da trágica ânsia pela veste
fria, cobria-se do ornamento claustro do eu.

Cruel o vento ergue os pêlos, indomáveis células do sentir,
tingindo o vermelho no corpo agora coberto de si.
No sopro a passear pela vasta relva rubra, olhos desfilam
na viva terra, e o castanho olhar semeia-se.

O receio desfolha-se esvoaçante no avivar,
no plantar na pele, que pulsa, vibrante e aberta,
na comunhão com o incontido da descoberta:
no germinar de corpos – tornados fulminantes –,
floresce o grande campo do mais desnudo Desejo.



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