sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os cães tristes

"...e esse silêncio a prender-me a vista no que resta."


Prendidos em gastas grades, os olhos
cansados vagueiam a rua movimentada.
E as passadas urbanas espalham-se
na interminável rua cinza
como as manchas a tingir os pêlos.
(A gasta penugem de raras carícias
era o duro asfalto a marcar o tempo.)

E, presos, viam os carros, sem correr atrás.
Presos, viam cadelas, sem uivar em torno.
Presos, viam estranhos a gaiola silente.

Sentados, pousados em caudas imóveis,
esgotados da longa espera, paralisados.
Passantes encaravam, estalavam dedos,
moviam-se e, indiferentes, os cachorros
permaneciam, distanciando a vida.

E, onde estavam, a casa era o espelho da multidão de sós.

Mesmo aberto o portão enferrujado,
parados permaneciam.
A rua ousava cada passo no turbilhão humano,
e parados se restavam.

Pois o faro guarda apenas o cheiro do ferro gasto
a marcar de frio o mais inocente latir
e turvar-lhes as claras íris, quase brancas,
com vermelho que tinge a mais dura grade
em peitos que apenas olham, tristes.



7 comentários:

  1. Volta o cão arrependido
    Com suas orelhas tão fartas
    Com seu ossinho roído
    E com o rabo entre as patas
    (Chaves)

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  2. Rapaz, eu vi a atualizacao no Facebook e pensei: "vou deixar um comentario no blog de Pitta". Porem, ao ler o post percebi que nao tenho capilogencia nem envergadura moral para tal, entao fica o abraco mesmo.

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